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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sandra Starling
Afinal, quem tem a caneta nas mãos é a presidente
Publicado no Jornal OTEMPO em 15/06/2011


O PT aprende a obedecer: humilhado

Quando o PT era PT, isto é, partido político e não mera legenda partidária, costumava-se discutir tudo muitas vezes até a votação final. Depois disso, todos cumpriam disciplinadamente o que fora decidido.

Para se ter uma ideia do zelo pela posição coletiva, darei dois exemplos: em 1982, era eu candidata ao governo de Minas e no fim da campanha haveria um comício de encerramento em Juiz de Fora. Pouco antes de entrar no carro para pegar a estrada, veio um telefonema de Cataguases, exigindo que passasse primeiro por lá para fazer outro comício. Eu estava absolutamente exausta e avisei que não iria. Instada pela militância daquela cidade, a direção executiva estadual se reuniu e, ali mesmo, deliberou o contrário: eu iria a Cataguases. Fui. Chorando.


Em 1985, diante do impasse na escolha do candidato a prefeito de Belo Horizonte, dividido entre Virgílio Guimarães e João Batista dos Mares Guia, o partido foi ao encontro municipal na quadra do Ginástico, na praça Milton Campos. Lula e Francisco Weffort, partidários da candidatura de Mares Guia, lá foram como observadores da Executiva Nacional. No primeiro embate, no qual fui a oradora, ouvi de Lula uma frase hoje inolvidável: "Vocês venceram".


Uma declaração hoje inesquecível porque, desde que se tornou outra vez candidato a presidente em 2002, Lula passou a decidir sozinho, ou com quem ele escolhesse, tudo sobre os destinos do partido. Foi assim com a "Carta aos Brasileiros" e foi assim com a escolha de Duda Mendonça como marqueteiro de campanha. E por aí afora, até culminar na indicação de Dilma Rousseff para candidata à sua sucessão.


O então presidente do PT, Ricardo Berzoini, chegou a protestar quando foi dito, pela primeira vez, que ela seria a candidata. Lembro-me, com certeza, da frase dele: "No PT as coisas não são assim. As bases serão ouvidas". Ledo engano. Os diferentes grupos internos do partido foram se curvando à decisão de Lula. Escrevi que todos se pareciam a reis de todos os naipes, caindo um a um. Finalmente, no encontro nacional, a consagração, sem nenhuma discussão ou empolgação, do nome de Dilma.


Agora, na crise aberta pelo "affair" Palocci e que prossegue com a substituição do ministro das Relações Institucionais, acompanho - felizmente de longe! - a choradeira de antigos companheiros, sobretudo na Câmara dos Deputados. Eles se engalfinharam entre si e contra a presidente, mas sem poder chiar às claras, porque, afinal, quem tem a caneta nas mãos é a chefe de governo. Ao fim e ao cabo, quem manda é ela. E dou razão a Dilma nesse episódio.


A responsabilidade recai sobre sua cabeça na meleira que se instalou em seu governo. Pelo sim, pelo não, a última palavra tem que ser dada por quem vai responder perante a história por seus atos. Não precisava, porém, que isso se passasse na solidão das paredes dos palácios da Alvorada ou do Planalto. Se Dilma tivesse tido militância no partido, certamente, teria interlocutores a quem não deixaria de ouvir numa situação como essa. E a responsabilidade seria compartilhada.


Está sendo bom para o PT aprender a lição da obediência: humilhado.

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