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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Chefes do atentado ao Riocentro mataram Baumgarten Dono da revista “O Cruzeiro” foi morto como queima de arquivo, segundo conta ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra Tales Faria, iG Brasília | 02/05/2012 14:19:02 - Atualizada às 02/05/2012 17:29:02

Os mesmos comandantes do Riocentro mandaram executar o jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982, revela o ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) do Espírito Santo Cláudio Guerra, no livro “Memórias de uma guerra suja”. Leia também: A primeira confissão do atentado ao Riocentro Cláudio Guerra conta que ele próprio foi encarregado inicialmente do assassinato. O plano era simular uma morte natural, aplicando em Baumgarten uma injeção com a substância letal. A perícia, combinada, apontaria como causa da morte um infarto comum. Foto: Divulgação Delegado Cláudio Guerra: Baumgarten foi morto como queima de arquivo Segundo o relato do ex-delegado aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que acaba de ser publicado pela Editora Topbooks, a ordem de matar Baumgarten, dono da revista Cruzeiro, “partiu do SNI (Serviço Nacional de Informações) de Brasília”. À época, a Agência Central do SNI, em Brasília, era chefiada pelo general Newton Cruz. E Cláudio Guerra teria sido escalado para o assassinato - chamado de Operação Dragão - pelos seus dois chefes diretos: o coronel de Exército Freddie Perdigão (Serviço Nacional de Informações) e o comandante Antônio Vieira (Cenimar). Veja também: Militantes de esquerda foram incinerados Um matador em busca de paz Delegado Fleury foi morto pelos militares, diz ex-delegado A primeira confissão do atentado ao Riocentro Chefes do atentado ao Riocentro mataram Baumgarten O ex-delegado dá os nomes dos comandantes da operação, “os mesmos de sempre”: Ambos haviam sido, ainda segundo o ex-delegado, os comandantes do atentado do Riocentro, junto com o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (comandante do Departamento de Operações de Informações do 2º Exército – DOI-Codi). “Ele (Baumgarten) ia morrer porque era um arquivo vivo. Recebia dinheiro para apoiar o governo militar, por meio do trabalho na revista. Mas, por várias razões, os militares perderam a confiança nele e decretaram sua morte. Por mais recursos que ele recebesse, queria sempre mais e mais. A ambição o transformou num chantagista.” Confira: “Militantes de esquerda foram incinerados em usina de açúcar” Cláudio Guerra conta que juntou três homens de sua equipe e, um mês antes do desaparecimento de Baumgarten, abordaram-no numa rua do Rio de Janeiro e o imobilizaram. “Anunciei um assalto, a injeção estava comigo, mas não consegui aplicar. Baumgarten reagiu, gritou que estava sendo assassinado e acabou atraindo a curiosidade das pessoas que passavam. Tivemos que abortar a operação.” Pouco tempo depois, o técnico da antiga Companhia Telefônica do Rio de Janeiro (Telerj) Heráclito Faffe, que trabalhava em escutas para o SNI, morreu de edema pulmonar após uma estranha tentativa de assalto em Copacabana. O livro “Dos quartéis à espionagem: caminhos e desvios do poder militar”, de José Argolo e Luiz Alberto Fortunato, relata que Faffe chegou a ser atendido por médicos e contou que seus agressores aplicaram-lhe uma injeção nas nádegas. Troca de comando na operação Segundo Cláudio Guerra, depois de outra tentativa mal sucedida, o coronel Perdigão informou que a Operação Dragão passaria para ser feita por militares e por um médico. “Apanharam Baumgarten e a esposa na região serrana do Rio. Ela ficou refém e ele foi para a Polícia Federal, com o delegado Barrouin”. Cláudio Barrouin Mello foi vice-presidente do Sindicato dos Delegados Federais do Rio de Janeiro e ficou conhecido ao comandar a operação que culminou na morte do banqueiro do bicho Toninho Turco. Morreu em 1998. Comissão da Verdade: Nomes ainda não foram escolhidos Conta Cláudio Guerra que os assasinos de Baumgarten levaram a vítima para alto-mar. A função do médico era fazer uma incisão no seu abdomem para liberar gases e evitar que boiasse. Mas o corpo apareceu na praia. E o delegado diz ter ouvido de Perdigão e Vieira que foi por erro do médico. “Antes que eu me esqueça: o médico que abriu a barriga do Baumgarten chamava-se Amílcar Lobo”, conta o ex-delegado. Amílcar Lobo, tempos depois, teve seu registro médico cassado por ter participado de sessões de tortura no regime militar. Seu codinome era “Doutor Carneiro”.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O papa e a utilidade do marxismo

Por Frei Betto * O papa Bento XVI tem razão: o marxismo não é mais útil. Sim, o marxismo conforme muitos na Igreja Católica o entendem: uma ideologia ateísta, que justificou os crimes de Stalin e as barbaridades da Revolução Cultural chinesa. Aceitar que o marxismo conforme a ótica de Ratzinger é o mesmo marxismo conforme a ótica de Marx seria como identificar catolicismo com Inquisição. Poder-se-ia dizer hoje: o catolicismo não é mais útil. Porque já não se justifica enviar mulheres tidas como bruxas à fogueira nem torturar suspeitos de heresia. Ora, felizmente o catolicismo não pode ser identificado com a Inquisição, nem com a pedofilia de padres e bispos. Do mesmo modo, o marxismo não se confunde com os marxistas que o utilizaram para disseminar o medo, o terror, e sufocar a liberdade religiosa. Há que voltar a Marx para saber o que é marxismo; assim como há que retornar aos Evangelhos e a Jesus para saber o que é cristianismo, e a Francisco de Assis para saber o que é catolicismo. Ao longo da história, em nome das mais belas palavras foram cometidos os mais horrendos crimes. Em nome da democracia, os EUA se apoderaram de Porto Rico e da base cubana de Guantánamo. Em nome do progresso, países da Europa Ocidental colonizaram povos africanos e deixaram ali um rastro de miséria. Em nome da liberdade, a rainha Vitória, do Reino Unido, promoveu na China a devastadora Guerra do Ópio. Em nome da paz, a Casa Branca cometeu o mais ousado e genocida ato terrorista de toda a história: as bombas atômicas sobre as populações de Hiroshima e Nagasaki. Em nome da liberdade, os EUA implantaram, em quase toda a América Latina, ditaduras sanguinárias ao longo de três décadas (1960-1980). O marxismo é um método de análise da realidade. E mais do que nunca útil para se compreender a atual crise do capitalismo. O capitalismo, sim, já não é útil, pois promoveu a mais acentuada desigualdade social entre a população do mundo; apoderou-se de riquezas naturais de outros povos; desenvolveu sua face imperialista e monopolista; centrou o equilíbrio do mundo em arsenais nucleares; e disseminou a ideologia neoliberal, que reduz o ser humano a mero consumista submisso aos encantos da mercadoria. Hoje, o capitalismo é hegemônico no mundo. E de 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecem fome crônica. O capitalismo fracassou para 2/3 da humanidade que não têm acesso a uma vida digna. Onde o cristianismo e o marxismo falam em solidariedade, o capitalismo introduziu a competição; onde falam em cooperação, ele introduziu a concorrência; onde falam em respeito à soberania dos povos, ele introduziu a globocolonização. A religião não é um método de análise da realidade. O marxismo não é uma religião. A luz que a fé projeta sobre a realidade é, queira ou não o Vaticano, sempre mediatizada por uma ideologia. A ideologia neoliberal, que identifica capitalismo e democracia, hoje impera na consciência de muitos cristãos e os impede de perceber que o capitalismo é intrinsecamente perverso. A Igreja Católica, muitas vezes, é conivente com o capitalismo porque este a cobre de privilégios e lhe franqueia uma liberdade que é negada, pela pobreza, a milhões de seres humanos. Ora, já está provado que o capitalismo não assegura um futuro digno para a humanidade. Bento XVI o admitiu ao afirmar que devemos buscar novos modelos. O marxismo, ao analisar as contradições e insuficiências do capitalismo, nos abre uma porta de esperança a uma sociedade que os católicos, na celebração eucarística, caracterizam como o mundo em que todos haverão de "partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano". A isso Marx chamou de socialismo. O arcebispo católico de Munique, Reinhard Marx, lançou, em 2011, um livro intitulado O Capital — um legado a favor da humanidade. A capa contém as mesmas cores e fontes gráficas da primeira edição de O Capital, de Karl Marx, publicada em Hamburgo, em 1867. "Marx não está morto e é preciso levá-lo a sério", disse o prelado por ocasião do lançamento da obra. "Há que se confrontar com a obra de Karl Marx, que nos ajuda a entender as teorias da acumulação capitalista e o mercantilismo. Isso não significa deixar-se atrair pelas aberrações e atrocidades cometidas em seu nome no século 20". O autor do novo "O Capital", nomeado cardeal por Bento XVI em novembro de 2010, qualifica de "sociais-éticos" os princípios defendidos em seu livro, critica o capitalismo neoliberal, qualifica a especulação de "selvagem" e "pecado", e advoga que a economia precisa ser redesenhada segundo normas éticas de uma nova ordem econômica e política. "As regras do jogo devem ter qualidade ética. Nesse sentido, a doutrina social da Igreja é crítica frente ao capitalismo", afirma o arcebispo. O livro se inicia com uma carta de Reinhard Marx a Karl Marx, a quem chama de "querido homônimo", falecido em 1883. Roga-lhe reconhecer agora seu equívoco quanto à inexistência de Deus. O que sugere, nas entrelinhas, que o autor do Manifesto Comunista se encontra entre os que, do outro lado da vida, desfrutam da visão beatífica de Deus. * Frei Betto é autor do romance "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros. Fonte: Brasil de Fato

Torturadores, tremei!

Por Maurício Dias Há poucos dias, em decisão inédita, o juiz Guilherme Dezem, de São Paulo, determinou que no atestado de óbito de João Batista Drummond, dirigente do PCdoB, morto em 1976, conste que ele morreu em decorrência de “torturas físicas” e não de “traumatismo craniano encefálico” como consta hoje. Esse é o mais recente indício de que a Lei da Anistia brasileira não resistirá ao ambiente democrático. “A revisão dessa lei é só uma questão de tempo”, sustenta o advogado Roberto Caldas, indicado pelo governo brasileiro para disputar, na Assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA), a vaga de juiz titular da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), com sede em San José da Costa Rica. Além da criação da Comissão da Verdade, a indicação de Caldas é mais um sólido sinal de intolerância do governo Dilma à Lei da Anistia. Talvez não haja ninguém no País mais versado sobre o tema do que ele. Profissional sóbrio e sem paixões partidárias, Caldas participa das decisões da CIDH desde 2008 e, como juiz ad hoc, já votou por três vezes pela condenação do Estado brasileiro. A mais recente delas foi a decisão sobre a Guerrilha do Araguaia. O julgamento ocorreu em 2010, com base na Convenção Americana de Direitos Humanos, que, segundo Caldas, “declarou nula, de pleno direito, a Lei da Anistia brasileira quanto aos crimes cometidos por agentes do Estado”. A razão é simples. As regras jurídicas não admitem uma lei de autoanistia. Ela é inexistente, inválida, para a Corte e para os tribunais internacionais. Caldas não tem dúvidas sobre a -necessidade de o Brasil se submeter às decisões impostas por tratados internacionais que assinou: “A ordem jurídica internacional está atenta para não permitir que os detentores do poder político legislem em causa própria, com o objetivo de encobrir crimes graves contra direitos humanos. Mais uma razão somou-se a isso: os crimes de lesa-humanidade não podem ser objeto de anistia nem de prescrição”. Ele interpreta assim o sentido dessa decisão: “É a condenação de um crime muito mais agressivo do que o assassinato. Funciona como pressão contra um tipo de pensamento que afeta toda a sociedade e não só os que sofreram”. Um exemplo disso é o medo presente na sociedade brasileira quanto a uma possível retaliação dos militares à apuração de crimes cometidos na ditadura. Embora lento por tradição cultural, Caldas acredita que o Judiciário brasileiro começará a recepcionar as decisões tomadas pelas cortes internacionais. Talvez um pouco mais tarde do que seria preciso, mas certamente antes do que muitos gostariam. Ao declarar a Lei da Anistia constitucional, o STF, no entanto, não a blindou definitivamente? Roberto Caldas diz que não, e explica: “A decisão do tribunal ateve-se à análise da constitucionalidade da lei. Não há qualquer equiparação com decisões tomadas no âmbito do direito internacional vigente à época. É anterior ao julgamento do caso da Guerrilha do Araguaia pela Corte Interamericana, que interpreta e aplica a Convenção Americana, uma espécie de Constituição continental sobre Direitos Humanos”. Isso significa, por exemplo, que “é perfeitamente cabível”, segundo ele, “a análise dos crimes continuados, por parte de agentes do Estado”. A Lei da Anistia não é o nó cego pensado pelos articuladores dela: a proteção permanente das ações desumanas, imposta aos presos políticos na ditadura, está com os dias contados. Portanto, torturadores, tremei! Fonte : site da revista Carta Capital

Aécio Neves, o mal-ajeitado...

O ex-governador Aécio Neves tenta se desvencilhar de Demóstenes, como este o tentou de Cachoeira. O senador goiano, angelicalmente, explicou estar chocado, pois acreditava que o bicheiro havia se regenerado. Aécio, por sua vez, declara inocência na contratação da sobrinha do marginal em questão, por não saber do parentesco. São dois mal-ajeitados, mas aqui vou me ater apenas em Aécio. Segundo os dicionários, “mal ajeitado” é sinônimo de muitas coisas, desde mal arrumado, mal acabado, desalinhado, deselegante, ou ainda indecoroso, ímprobo e desonesto. Certamente que deselegante ou mal arrumado Aécio Neves não é. Acredito que o adjetivo que melhor lhe cai é “parrana”, também sinônimo de mal-ajeitado, porém com um viés mais próximo da bandidagem, malandragem ou vadiagem, além de também ser definição de improbidade e desonestidade. Quanto ao caráter, a dissimulação o define com propriedade singular. Os dissimulados não têm (porque escondem) opinião própria, são pouco corajosos (pra não dizer covardes) e adoram se dar bem em qualquer situação. É a cara do Aécio. Alguns ingênuos comparam o ex-governador mineiro com o senador Fernando Collor. Aécio aperfeiçoou a arte de manipular e o embuste do ex-presidente, apesar de partilharem o mesmo vício (do latim Vitium, falha ou defeito) de caráter. Aécio Neves da Cunha acredita pertencer à alta nobreza da política nacional. Reputa-se um gênio ante os homens e irresistível às mulheres. Presunçoso, crê que pertence àquela categoria de homens tenazes, progressistas, persistentes, responsáveis pela construção de uma nova era para o Brasil. Sua vaidade beira a demência. Dono de costumes nada ortodoxos através de instrumentos de prazeres extemporâneos e fugazes, trafega com habilidade pelo disfarce, carinha de bom moço bem humorado, mas que na intimidade revela-se sectário, agressivo. Frequentemente é dado a euforismos fora de propósito, sem razão aparente, muito provavelmente fruto de seus hábitos bizarros. Como um camaleão, circula altivo pelos corredores da situação e da oposição. Sempre dança de acordo com a música, nunca fora do ritmo. Evidente que, mesmo em termos biológicos, essa descrição sumária não retrata a essência da personalidade conflitante do senador Aécio Neves. Ele tem muito mais a apresentar, principalmente no campo das mazelas pessoais. Tal qual Hamlet quando jovem, Aécio ainda não adquiriu maturidade emocional para realizar o que dele espera seus áulicos, e acredito nunca o conseguirá. Hamlet foi assassinado no exato momento em que estava preparado para se tornar um grande rei. Certamente que isso não acontecerá com Aécio, não se tornará nada além do que já conseguiu até aqui, haja vista sua imaturidade latente, vida fútil e deslustrado caráter. É um eterno playboy, mente com desenvoltura, troca de mulheres com a mesma freqüência do vestuário, aparece em Minas ( estado que o elegeu) só quando é muito necessário ou para algum evento de projeção nacional, fora isto está sempre nas baladas do Rio de Janeiro-é o quarto senador do Rio. É um eterno adolescente, recusa-se a crescer. No entanto sabe jogar muito bem para a mídia, quando não a coopta com generosas verbas publicitárias aqui em Minas onde gastou quase 1,5 milhão-do dinheiro público- com auto promoção nos últimos 10 anos. Tem como fiel escudeiro em Minas, Antonio Augusto Junho Anastásia, o ungido por ele governador, uma dessas marionetes movidas por maquinação secreta, sem vontade própria ou qualquer faro político. É o testa-de-ferro do seu mentor em uma variedade de transações, a maior delas a farsa do choque de gestão (Minas deve 70 bilhões, arrecada 35/ano e só de juros paga 5 bi). Representa e se presta às maquinações políticas e extra-classes de Aécio. A exemplo do chefe, um poço de vaidades. É um caso típico de artigo descartável, supérfluo, de uso serviçal enquanto útil. Vive em eterno conflito entre a perspectiva de uma liderança intelectual e a autoridade que lhe outorgou seu preceptor. Sozinho não representa qualquer risco. No entanto, monitorado pelo astuto Aécio é uma ameaça de fato e de direito. Aécio e Anastásia, um par perfeito e pérfido, dissimulados, a serviço exclusivamente da ganância do primeiro. Faço uso aqui de uma frase de Gramsci adaptando-a para melhor explicar o sinistro ex-governador de Minas: Aécio Neves não é apenas um indivíduo, é sim um tipo social. Por isto, deve ser conhecido, estudado, discutido e superado, para o bem do Brasil. Jeferson Malaguti Soares Ribeirão das Neves/MG