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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os sinos dobram pelo dólar – Fidel Castro

O imperio dominou o mundo mais pela economia e a mentira que pela força. Obteve o privilégio de imprimir divisas conversíveis ao fim da Segunda Guerra Mundial. Monopolizava a arma nuclear e dispunha de quase todo o outro do mundo. Era o único fabricante em grande escala de bens de produção, bens de consumo, alimentos e serviços a nível mundial.
Tinha, não obstante, um limite à impressão de papel-moeda: o lastro em outro, ao preço constante de 35 dólares por onça troy. Assim ocorreu durante mais de 25 anos, até que em 15 de agosto de 1971, mediante uma ordem presidencial de Richard Nixon, os Estados Unidos romperam unilateralmente este compromisso internacional, logrando o mundo.
Não me cansarei de repetir: dessa forma, lançou sobre a economia mundial seus gastos militares e de suas aventuras bélicas, em especial a Guerra do Vietnam que, segundo cálculos conservadores, não custou menos que 200 bilhões de dólares e as vidas de 45 mil jovens americanos.
Sobre esse pequeno país do Terceiro Mundo foram lançadas mais bombas do que todas as utilizadas na última guerra mundial. Milhões de pessoas morreram ou foram mutiladas. Ao suspender a conversão, o dólar passou a ser uma divisa que se podia imprimir à vontade do governo norteamericano, sem a garantia de um valor constante.

Os bônus e títulos do Tesouro americano continuaram circulando como moeda conversíveis; as reservas dos países continuaram nutrindo-se destes papéis que, por um lado, serviam para adquirir materias primas, propriedades, bens e serviços de qualquer parte do mundo e, de outro, privilegiavam as exportações dos Estados Unidos frente à demais economias do planeta. Os políticos e acadêmicos mencionam uma ou outra vez o custo daquela guerra genocida, admiravelmente descrita no filme de Oliver Stone. As pessoas tendem a realizar cálculos como se os milhões fossem iguaus. Não sabem prevenir-se de que milhões de dólares de 1971 não sã iguais aos milhõrd de 2009.

Um milhão de dólares hoje, quando o ouro – um metal cujo valor foi estável ao longo dos séculos – tem um preço que passa de mil dólares a onça troy, vale em torno de 30 vezes o que valia quando Nixon suspendeu sua conversibilidade em outro.Duzentos bilhões de dólares em 1971 equivalem a 6 trilhões de dólares em 2009.Se não se considera isto, as novas gerações não terão uma idéia da barbárie imperialista.

Da mesma forma, quando se fala dos 20 bilhões investidos na Europa ao fim da II Guerra – em virtude do Plano Marshall para reconstruir e controlar a economia das principais potências européias, que possuiam a força de trabalho e a cultura técnica necessária para o rápido desenvolvimento da produção e dos serviços – as pessoas costumam ignorar que o valor real do investido então pelo império equivale, atualmente, ao valor internacional de 600 bilhões de dólares. Não se advertem de que US$ 20 bilhões chegariam apenas para construir três grandes refinarias de petróleo, com camapcidade para 800 mil barris/dia de gasolina, além dos outros derivados.

As sociedades de consumo por si só, o desperdício absurdo e leviano de energia e recursos naturais que ameaçam hoje a sobrevivência da nossa espécie não seria explicável em tão curto período da história, se não se conhece a maneira irresponsável em que o capitalismo desenvolvido, fase acima, tem governado os destinos do mundo.

Tão assombrosso desperdício explica por que os dois países mais industrializados, os Estados Unidos e Japão, estão endividadas em cerca de 20 trilhões de dólares.

Claro que a economia dos Estados Unidos está se aproximando de um PIB anual de 15 trilhões de dólares. As crises do capitalismo são cíclicas, como evidenciado irrefutavelmente, pela história do sistema, mas desta vez é algo mais: uma crise estrutural, conforme explicava o ministro da Planificação e Desenvolvimento da Venezuela, Professor Jorge Giordani a Walter Martinez em seu programa pela Telesur na noite passada.

As agências de notícias hoje, sexta-feira, 9 de outubro, acrescentam dados que são incontestáveis. Um despacho da AFP em Washington afirma que o déficit orçamentário dos Estados Unidos no ano fiscal de 2009, sobe para 1,4 trilhões de dólares, 9,9% do PIB, “algo não visto desde 1945, o Segunda Guerra Mundial”,acrescenta.
E se esperam balanços deficitários em 2010,2011 e 2012. Este enorme déficit é ditado principalmente pelo Congresso e pelo governo dos Estados Unidos para salvar os grandes bancos no país, para para impedir que o aumento do desemprego supere os 10% e para tirar os Estados Unidos da recessão. É lógico que seinundam o país de dólares, as grandes cadeias de lojas vendem mais indústrias aumentarão a produção, menos pessoas vão perder suas casas, a maré de desemprego deixará de crescer, as ações de Wall Street aumentarão no valor. Foi a maneira clássica de resolver a crise. No entanto, o mundo nunca mais será o mesmo.tão. Paul Krugman, o prestigiado Prêmio Nobel de Economia, está dizendo que o comércio internacional sofreu sua maior queda, pior do que a Grande Depressão e levantou dúvidas sobre uma recuperação rápida.

Não se pode também inundar o mundo de dólares e achar que esses papéis sem lastro em ouro manterão o seu valor. Outras economias, hoje mais sólidas, surgiram. O dólar já não é a divisa de reserva, porque de todos os Estados, e seus seus possuidores querem se livrar deles, evitando tanto quanto possível quse depreciem antes que possam se desfazer deles.

O euro da União Europeia, o yuan chinês, o franco suíço, o iene japonês – apesar das dívidas desse país -,e até a libra esterlina, juntamente com outras moedas, começaram a tomar o lugar do dólar no comércio internacional . O ouro metálico voltou a converter-se em importante moeda de reserva internacional.

Não é uma opinião pessoal, caprichosa, nem o desejo de caluniar o dólar.

Outro prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz disse, segundo o noticiário: “é provável que o dólar ainda fique no marasmo. Os políticos não decidem as formas de câmbio e os discursos que não vão fazê-lo, tão pouco”. Isto foi dito em 6 de outubro na reunião anual conjunta do FMI e do Banco Mundial, realizada em Istambul. Nesta cidade se pôde ver uma violenta repressão. O evento foi saudado com vitrines quebradas e fogo produzido por coquetéis molotov.

Outras notícias falavam de que os países europeus temiam o efeito negativo da fraqueza do dólar face ao euro e seu impacto sobre as exportações europeias. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos disse que seu país “estava interessado em um dólar forte”. Stiglitz ridicularizou a declaração oficial e expressa segundo a EFE que “no caso de dinheiro dos Estados Unidos tem sido desperdiçado, e que a causa foi o socorro bilionário aos bancos e financiar guerras como a do Afeganistão.” Segundo a agência, o Prêmio Nobel insistiu em que em vez de investir 700 bilhões em ajuda aos banqueiros, os Estados unidos poderiam destinar algum desse dinheiro para ajudar os países em desenvolvimento, o que por sua vez, teria estimulado a demanda global.

Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, soou o alarme de dias anteriores, e advertiu que o dólar não status de moeda de reserva.

Um eminente professor de economia na Universidade de Harvard, Kenneth Rogoff disse que a próxima grande crise financeira é “déficts públicos.

O Banco Mundial afirmou que “o Fundo Monetário Internacional (FMI), mostrou que os bancos centrais globais acumularam menos dólares durante o segundo semestre de 2009 do que em qualquer momento durante os últimos 10 anos e aumentaram suas reservas em euros”.

No próprio dia 6 de outubro, informou a AFP que o ouro atingiu um recorde de 1 045 a onça, impulsionada pela desvalorização do dólar e os temores de inflação.

O jornal The Independent, de Londres, informou que um grupo de países produtores de petróleo estudado para substituir o dólar no comércio para uma cesta de moedas que inclui o iene, o yuan, o euro, o ouro e uma futura moeda comum.

A notícia filtrada ou inferida com uma lógica impressionante foi contestada por alguns dos países alegadamente envolvidos. Eles não querem entrar em colapso, mas também não desejam continuar a acumular uma moeda que perdeu 30 vezes o seu valor em menos de três décadas.

Eu não posso deixar de lado uma notícia da EFE, que não pode ser “acusada” de antiimperialismo e que nas circunstâncias contêm pontos de interesse especial:

“Os especialistas em economia e finanças,coincidiram ,em Nova York, em dizer que a pior crise desde a Grande Depressão levou aquele país a desempenhar um papel menos importante na economia global.”

” ‘A recessão fez com que o mundo tem mudado a maneira como se olhamos Estados Unidos, Agora o nosso país é menos significativa do que antes e isso é algo que nós reconhecemos “, disse David Rubenstein, presidente e fundador do Carlyle Group, a maior empresa de capital de risco líder no mundo, falando no World Business Forum.”

” ‘O mundo financeiro será menos focado nos Estados Unidos. (…) Nova Iorque, não vai ser nunca mais a capital financeira do mundo e esse papel é compartilhada com Londres, Xangai, Dubai, São Paulo e outras cidades “, disse ele.”

” O enorme endividamentp público, inflação, desemprego, perda de valor do dólar como moeda de reserva, os preços da energia …”

“O governo deve reduzir os gastos públicos para combater o problema da dívida e fazer algo de que gosta pouco: aumentar os impostos.”

“O economista da Universidade de Columbia e conselheiro especial da ONU Jeffrey Sachs, concordou com Rubenstein, em que o predomínio econômico e financeiro dos Estados Unidos ´está se apagando`”.

“Saímos de um sistema baseado nos Estados Unidos para ingressar num “multilateral” … ”

” Vinte anos de irresponsabilidade do ex-administração de Bill Clinton, primeiro e, logo depois a de George W. Bush, cederam à pressão de Wall Street … ”

“…” Os bancos negociavam ativos ‘tóxicos’ para conseguir dinheiro fácil “, disse Sachs.”

” ‘O importante agora é reconhecer o desafio sem precedentes para assegurar um desenvolvimento económico sustentável e consistente com os princípios físicos e biológicos deste mundo …

Por outro lado, as notícias que chegavam diretamente de nossa delegação em Bangcoc, capital da Tailândia, não eram de forma alguma confortantes:

“O essencial que se discute – informou textualmente nosso Ministério das Relações Exteriores – é a ratificação ou não do conceito de responsabilidades comuns, mas diferenciadas entre os países industrializados e as chamadas economias emergentes, basicamente China, Brasil, India e África do Sul, e os países subdesenvolvidos.

“China, Brasil, India, África do Sul, Egito, Bangladesh, Paquistão e a Alba (Aliança Bolivariana das Américas), são os mais ativos. Em geral, os integrantes do Grupo dos 77, em sua maioria, se mantiveram em posições firmes e corretas”.

“As cifras de redução de emissões de carbono, que se está negociando, não correspondem com as propostas pelos cientistas para manter o aumento da temperatura a um nível inferior a dois graus celsius, isso é, 25 – 40%. Nesse momento, a negociação está em torno de 11 – 18%.”

“Os Estados Unidos não estão fazendo nenhum esforço real. Apenas estão aceitando uma redução de 4% em relação a 1990.”

Nas primeiras horas da manhã de hoje, sexta, dia 9, o mundo acordou com a notícia que o “Bom Obama” do enigma, explicado pelo Presidente Bolivariano Hugo Chávez na ONU, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Nem sempre compartilho com as posições dessa instituição, mas me vejo obrigado a reconhecer que, nesse momento, foi, no meu parecer, uma medida positiva. Compensa o revés que Obama sofreu em Copenhague, ao ser designado o Rio de Janeiro, e não chicago, como sede das olimpíadas de 2016, o que provocou raivosos ataques de seus adversários de extrema direita.

Muitos opinaram que não havia ganho ainda, entretanto, direito de receber tal prêmio. Desejamos ver na decisão, mais do que um prêmio ao Presidente dos Estados Unidos, uma crítica à política genocida que foi apoiada por não poucos presidentes deste país, os quais conduziaram o mundo à encruzilhada em que hoje se encontra; uma exortação à paz, e a busca de soluções que conduzam à sobrevivência da espécie.

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